segunda-feira, 10 de agosto de 2020

NAVAJOS

Existe um ditado índio antigo que diz: que algo vive tanto tempo quanto a última pessoa que se lembra dele. Minha cultura passou a acreditar na memória e não na história. A memória, como o fogo, é radiante e imutável, enquanto a história, serve somente àqueles que procuram controlá-la, que conseguem apagar a chama da memória para extinguir o fogo perigoso da verdade. Cuidado com aqueles homens, pois eles são perigosos, e ignorantes. Sua falsa história foi escrita com o sangue daqueles que podem lembrar, e daqueles que procuram a verdade. Para os Navajos, a terra e suas criaturas têm grande influência sobre nossa existência. As estórias, passadas de geração a geração, nos ajudam a entender o porquê de tantas lágrimas não só de tristeza como de alegria. Animais como o urso, a aranha e o coiote são símbolos poderosos para a nossa gente. Quando Mulder, o homem do FBI, foi curado pelo Povo Sagrado, nos lembramos da estória do monstro Gila, que simboliza os poderes curativos dos curandeiros. Neste mito, o monstro Gila restaura a pessoa tirando todas as partes do seu corpo para depois juntá-las novamente. Seu sangue é recolhido pelas formigas, seu olhos e orelhas, pelo sol, a mente pelo Deus Falante e o Garoto Pólen. Aí relâmpagos e trovões devolvem a vida à pessoa. No final da cerimônia, depois que o Homem do FBI foi curado, soubemos através de outros nativos americanos que vivem nas planícies, que tinha ocorrido um grande acontecimento. Como nós, os Navajos, esse povo tem suas próprias estórias e mitos. Uma destas estórias conta que uma mulher branca desceu dos céus e ensinou aos índios como terem uma vida louvável e como rezar ao Criador. Ela disse a esse povo que retornaria um dia. Aí ela se transformou num búfalo branco e subiu aos céus, e nunca mais foi vista. Porém neste dia, quando o Povo Sagrado concedeu um milagre ao Homem do FBI, um búfalo branco nasceu. E cada nativo americano sabia, acreditando ou não na estória, que isto era um grande presságio. E que grandes mudanças estão vindo. 

 

 

 

 

Masoquismo

 

Assim, sem que o pretendesse, eu havia descoberto a natureza dinâmica de todas as religiões e filosofias de sofrimento. Quando na minha qualidade de conselheiro sexual, entrei em contato com muitos cristãos, compreendi a conexão entre o mecanismo biológico e a religião. O êxtase religioso configura-se precisamente segundo o mecanismo masoquista. Libertação do pecado interior, i.e., da tensão sexual interior - libertação que o indivíduo não é capaz de alcançar por si mesmo- é esperada de Deus, figura todo-poderosa. Semelhante libertação é desejada com energia biológica. Ao mesmo tempo, é experimentado como um “pecado”. Assim não pode efetuar-se por meio da própria vontade do sujeito. Outra pessoa tem de realizá-la, seja em forma de punição, perdão, redenção, etc. Teremos mais a dizer sobre isso mais tarde. As orgias masoquistas da Idade Média, a inquisição, os castigos e torturas, as penitências, etc. Do religioso traem a verdadeira função: eram tentativas masoquistas frustradas de conseguir a satisfação sexual !

W Reich - em "A função do Orgasmo"